Querem ver
uma coisa bué gira? Eu, que odeio política e políticos de um modo geral, a
defender um político em relação aos cães da SIC. E para verem o quão empenhado
estou nisto, estou a escrever sobre o tema, apenas 2 ou 3 horas após o
acontecimento e alguns minutos após ter tido conhecimento do mesmo.
Pois é. O
Senhor Presidente da Câmara Municipal de Ponte de Sor foi ao programa Queridas
Manhãs, na SIC, apresentado pela, já tão bem afamada, Júlia Pinheiro e pelo
João Paulo Rodrigues. Nesta “entrevista” pudemos também contar com a excelente participação
do Dr. Hernâni Carvalho. Acho que nem vale a pena dizer o motivo de tal “entrevista”.
Ok, é melhor prevenir possíveis leitores que vivam debaixo de uma pedra ou com
capacidade dedutiva reduzida: Foi por causa do caso dos dois meninos iraquianos
terem espancado o menino de Ponte de Sor.
Do pouco que
conhecia, eu até tinha uma boa impressão do senhor Hernâni, mas depois de hoje,
o único frequentador assíduo daquele programa de quem continuo com boa
impressão é o João Paulo Rodrigues e foi porque ele não abriu a boca durante a
entrevista toda.
Ora vamos
estudar bem esta entrevista. Para começar, uma das primeiras questões que a
senhora Júlia coloca é: “O Sr. Presidente da Câmara fez muita questão de estar
connosco aqui para nos ajudar a entender o que é que se passa na sua cidade, onde
acontecem estas coisas, às três/quatro da manhã. Quer-nos explicar?” Isto tudo,
dito com uma cara de cabra do liceu que só visto é que é credível. E para quem
é mais bom-de-coração e gosta de não ver más intenções nas pessoas, ela mais à
frente reforça a ideia mesmo como quem diz “Eu estou mesmo a ser cabra, não foi
só impressão”. E faz isso da seguinte forma: “Eu esperava que nos viesse dizer
como é que estas coisas acontecem na sua cidade.” Ora bem, ela não está a falar
com o Batman. Senhora Júlia, a função de um presidente da câmara não é andar à
noite pelas ruas a defender os fracos enquanto grita aos vilões: “Em nome do
município, declaro-te inimigo da sociedade!”.
Mas há mais.
Claro que há mais, estamos a falar de um programa da manhã. Nem podia ser de
outra forma. Durante o pouco tempo de antena que o Presidente de Ponte de Sor
consegue falar sem grandes interrupções, a Júlia pergunta-lhe o que é que tem
sido feito para prevenir o tipo de situações em questão, ao que o Presidente
responde com a nova força de segurança em ação na nossa cidade: GNR’s de bicicleta.
E como é que a Júlia reage a isto? “Neste caso com os iraquianos ia ser
complicado, eles andavam de carro…”. Portanto… Eu não sei se a senhora acha que
está a apresentar um programa de comédia tipo roast (em que o objetivo é
unicamente enxovalhar o convidado) ou se tem um atraso mental que devia ser
estudado por veterinários de alta patente.
Eventualmente,
durante a conversa, o Hernâni começa a meter-se suavemente, mas em pouco tempo
transforma essa suavidade em “ATÉ TE CHUPO O TUTANO DOS OSSOS!”. E quem ouve
isto, inocentemente tal como eu, pensa que o Sr. Hernâni deu uma real sova de
moral e informação económica ao nosso presidente mas, após assistirem ao “debate”
em questão, percebem que o Hernâni é só um perito na arte do bom “não deixar
falar” (arte essa que, como todos sabem, a Júlia Pinheiro é a campeã).
Mas, no meio
de toda aquela selva de comentários, o que mais me deu vontade de trocar de
lugar com o Presidente e enfiar um par de lambadas a cada um dos dois (Júlia e
Hernâni) enquanto soava o “Eye of the tiger” de fundo, foi o seguinte:
Presidente: (algures
pelo meio de demasiada gente a falar por cima uns dos outros): só fui
vice-presidente.
Eventualmente,
depois de muito lixo falado, acontece isto perto do minuto 22:00:
Hernâni:
Então acha que eu falei da câmara de Ponte de Sor?
Presidente:
Falou.
Hernâni:
Tenho mais que fazer.
Presidente:
Quer que eu lhe leia?
Hernâni:
Quero.
Presidente:
Então eu vou ler: “Ponte de Sor tem um ar completamente diferente do de Tires…”
Hernâni
(interrompendo): E então? É proibido dizer isso?
Vamos lá Dr.
Hernâni. Pediu ao homem para ler aquilo que o Dr. disse e, antes de ser acabada
de ler a primeira frase, já está a interromper? Mas que manipulação barata da conversa
é essa? E quando é que o Presidente disse que o senhor tinha dito alguma coisa proibida?
O que ele disse não foi que o senhor tinha falado do município de Ponte de Sor?
Bem, continuemos então para eu chegar ao ponto fulcral da questão que nem
sequer é este.
Júlia: Deixe
lá o Sr. Presidente acabar de falar com os seus munícipes. (acho eu que foi o
que ela disse, visto que, para variar, está uma confusão de vozes que mais
parece um debate futebolístico)
Presidente:
Eu não vim aqui para falar com os meus munícipes. Vim aqui para esclarecer…
Hernâni:
(Adivinhem o que aconteceu aqui! Acertaram! Ele interrompeu-o novamente) Ah
pois não… Então vinha aqui dizer que tinha rebentado 35% do orçamento no aeródromo?
*muita
conversa palha pelo meio que não me apetece transcrever por isso vão ver ao
link que eu mandei e não me chateiem*
Presidente:
O senhor sabe que a SIC em 2010 entregou um prémio como autarquia do ano à
Câmara Municipal de Ponte de Sor? A nível social?
Hernâni:
Sim, e então?
Presidente: “E
então?” o senhor não sabe! A dizer que só gasto dinheiro no aeródromo… Como é
que uma autarquia com uma dimensão tão restrita, naquilo que é a sua atividade
e o seu orçamento, consegue ser a autarquia do ano em serviço social.
Hernâni: (ao
mesmo tempo que o Presidente dizia o que transcrevi imediatamente acima) É
verdade, em 2010. O senhor está cá em 2016. O que é que o senhor tem a ver com
isso?
Presidente:
O que é que eu tenho a ver com isso?! O Senhor não disse que eu era
vice-presidente da câmara?
Hernâni:
Então foi ou não foi?! *mesmo como quem diz: “já te apanhei”*
E aqui
podemos ver a cara do Sr. Presidente com todo um choque que, traduzindo o que
ele realmente sentiu naquele momento no seu íntimo, deve ter sido qualquer
coisa como “Foda-se, mas este gajo tá bêbado ou também foi atropelado por
iraquianos antes de vir para aqui?”
Presidente: “Fui
ou não fui?!”
Hernâni:
Isto apanha-se mais depressa um distraído do que um coxo (aqui tenho que gabar
a agilidade de palavras do Hernâni para não chamar mentiroso ao Presidente
descaradamente).
E assim
terminam a entrevista, sem nada ter sido esclarecido como deve ser porque a
ideia da apresentadora e do comentador nunca foi esclarecer as coisas, mas sim
enxovalhar um político porque ele próprio se propôs a ir lá (pelo que eu percebi)
e porque enxovalhar políticos dá audiências, porque fica sempre bem escarrar
mais uma vez em alguém que já tem a fama de ser uma grande parte do excremento da
sociedade. Atenção que não estou a defender os políticos de um modo geral, mas
há que ter dois dedos de testa e ver quando é que uma pessoa tem motivos para
ser criticada e quando é que não tem sequer qualquer tipo de relação com os
problemas que acontecem.