Aquelas
pessoas que dizem coisas como “façam as coisas com o coração” ou “o
que é feito com sinceridade e com o coração é que interessa” não fazem puta
ideia dos coraçõezinhos negros que por aí há. Incluindo o meu. A minha sorte é
ser uma pessoa extremamente tímida e com aversão à discussão e ao confronto.
Senão não tinha amigos. Assim, quando as pessoas se apercebem da besta que sou
já é tarde demais. “Ah, mas vão sempre a tempo de deixarem de ser teus amigos
quando te conhecem melhor…” Enquanto a amizade está na garantia para devolução
as pessoas pensam que digo as coisas a brincar, depois disso já gostam
demasiado de mim para me devolverem… Já se sentem dispostos a levar com a
negridão do meu coração para terem direito ao resto – que não é muito…
Estas cenas
são mais comuns em redes sociais do que no “mundo real”, mas já vi certas
pessoas a postarem coisas deste género que se soubessem o que eu penso delas,
não só me apagavam das redes sociais como passavam a mudar de direção sempre
que fossem passar por mim na rua. “Também não podes ser assim tão má pessoa…”
Sou.
Vou dar-vos
um exemplo:
Situação:
formação de Personal Training com profissionais na área do fitness,
powerlifting e crossfit.
Professor:
Aquele espaço que certos bodybuilders têm entre os abdominais não é saudável
mas eles treinam de forma a provocá-lo para terem melhor pontuação nas
competições (isto parafraseando. Como devem calcular não me lembro das palavras
exatas do professor).
Até aqui
tudo bem. Agora vem a segunda parte:
Situação: em
conversa com um puto de secundário.
Eu: Um
professor disse-me que os bodybuilders fazem treino propositado para aumentar
aquele espaço entre os abdominais.
Puto: Mas
olha que eles perdem pontos por causa desse espaço!
O que se
seguiu porque eu não gosto de discutir com portas:
Eu: Opá, ele
disse aquilo e o gajo percebe bué do assunto… Não sei.
Puto: Mas
eles perdem pontos por causa desse espaço! Se tiverem os abdominais unidos têm
mais pontos!
Eu: Ok…
O que teria
acontecido se eu tivesse agido como o meu coração mandava:
Eu:
*chapadão nas ventas do puto* Mas tu és burro ou quê? Queres enganar quem?
Estás a dizer-me que percebes mais de Bodybuilding que um gajo que começou a
trabalhar na área do fitness quando tu ainda usavas rodinhas na bicicleta?
Puto: Também
não é preciso viol…
Eu: *segundo
chapadão nas ventas* E cala-te já se não levas mais!
E ali se
geravam vários problemas. Portanto, vamos todos agradecer que haja gente que,
como eu, não age “com o coração”.
Ser sincero
nem sempre é bom. “Então és falso e mentiroso?” Não, sou educado e sei viver em
sociedade. É certo que às vezes gostava de ter coragem para seguir mais o meu
coração e mandar certa gente ir conviver de forma íntima com o falo de um
cavalo, mas, já dizia o sábio Cóias, são os limites da personalidade, e a minha
não dá para discussões desnecessárias e sem objetivo nem para olhar um gajo nos
olhos e dizer-lhe com toda a sinceridade “tu és burro e fazes força. Enquanto
fores assim não voltes a dar-me a tua opinião seja sobre o que for”.
Mas devia…
Devia mesmo muito.
E pronto,
como podem ver comecei por dizer “ainda bem que as pessoas nem sempre dizem o
que lhes vai na alma” e acabo a dizer “eu devia chamar burras a certas pessoas,
diretamente”.
Pergunto-me
quantas pessoas a quem isto se aplica irão ler isto e pensar que não fazem
parte do grupo dos burros…