Nunca eu
pensei que a minha rica terrinha andasse tanto nas bocas do mundo. Claro que
por maus motivos, mas isso não interessa.
Uma vez mais
deveria ter escrito sobre isto mais cedo (visto que tive conhecimento do ocorrido
no dia a seguir ao mesmo) mas como sou preguiçoso, não escrevi.
Para quem
ainda não percebeu do que estou a falar, é do menino que levou uma remodelação
facial involuntária por parte de dois outros meninos, dois anos mais velhos,
que, por sua vez, são filhos do embaixador do Iraque em Portugal e, como tal,
beneficiam de imunidade diplomática.
É tão
reconfortante saber que um qualquer par de putos de 17 anos pode chegar ao pé
de nós e malhar-nos de tal forma que ficamos em perigo de vida sem que nenhuma repercussão
caia sobre eles.
E toda a
gente tem pena do pobre coitado que foi espancado (e com razão. O ter pena, não
o ser espancado), mas, na minha opinião, quem deve estar a sofrer mais com isto
são os pais da vítima. Ora experimentem a imaginar-se na posição deles.
Apetecer-vos esganar os cabrõezinhos que deixaram a vossa cria com cara de
pintura do Pollock e nem sequer terem o prazer de os ver sofrer um bocadinho
que seja. Porquê? Porque existe uma lei, que ninguém sabe porque é que foi
inventada, que diz que se nasceres na família certa podes fazer o que quiseres
sem quaisquer consequências. “Ah, mas isso não é bem assim porque ainda estão a
averiguar o caso…” e entretanto as bestas podem por-se na alheta. E só se faz
alguma coisa se o governo iraquiano ou a própria família do embaixador levantar
a imunidade. Que obviamente o vão fazer.
*Dlim dlão*
- Olhe, os
seus dois filhos acabaram de atropelar e espancar um outro miúdo, dois anos
mais novo que eles, deixando-o em estado grave num hospital.
- Então e
agora?
- Agora
precisamos da sua autorização para os poder castigar.
- Da minha
autorização?
- Sim, se o
senhor ou o seu país não levantarem o direito à imunidade diplomática não podemos
fazer nada.
- Hmm, então
esperem aqui só um bocadinho.
*Porta
fecha-se*
- *vozes
altas dentro de casa*: Rapazes, entrem no carro, vamos voltar para o Iraque
antes que isto dê mais merda!
Mas no fim
disto tudo eu ainda acho que essa imunidade devia ser testada. Como? Mandar os
gémeos para os pais e amigos da vítima e ver se a imunidade dá mesmo para tudo.
Ah! E, já agora, gravar para o jovem hospitalizado mais tarde poder apreciar a
festa.
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