domingo, 22 de outubro de 2017

Gonorreia Jornalística...

Uma vez mais venho dizer mal. Pois é, já me deixei de textos bonitos.
Recentemente um jovem que ainda chegou a frequentar a mesma licenciatura que eu (não simultaneamente) foi esfaqueado pela namorada, morrendo pouco tempo depois. Um casal de jovens – ele 21, ela 19 – moravam juntos. O que primeiro soou foi que ele foi esfaqueado no pescoço enquanto dormia. Que após tudo isto a namorada acabou por chamar ajuda ao fim de algumas horas e que foi levada pela PJ. Até aqui mais ou menos tudo dentro do “normal”: Gaja maluca, rapaz a dormir, esfaqueamento, ele vai para o hospital, ela vai para a PJ. Entretanto, obviamente, começam a aparecer teorias e boatos. Também é normal. A seguir vem a parte que, não deixando de ser já hábito, continua a ser revoltante e nojenta: o CM dá a notícia…
Eu vou transcrever apenas dois parágrafos da notícia:
“Às 06h00 de terça-feira, a discussão acabou em tragédia. Luís Filipe terá desligado a água enquanto a namorada tomava banho para ir trabalhar. A jovem saiu à rua com uma faca de cozinha, decidida a vingar-se.
Queria furar os pneus do carro do namorado, mas enquanto se dirigia para o veículo, Luís Filipe tirou-lhe a toalha que ela tinha enrolada ao corpo desde que foi forçada a sair do banho. Ficou nua na rua, outra vez sob o olhar de vizinhos. Não conteve a raiva e deu-lhe uma facada, acertando no pescoço.”
E pronto, sem grande esforço, passámos de notícia a novela.
Eu não vou comentar seja o que for em relação ao que acho que seria justo acontecer daqui para a frente, visto que também não sei o que realmente aconteceu, mas até o poderia fazer visto que não sou uma plataforma de notícias nacional…
Vá lá, CM… isto só já é masturbação jornalística. Só vocês é que ficam contentes e deixam tudo sujo quando acabam. Controlem-se…


Aqui fica o link para a notícia para quem quiser ir chafurdar mais no esterco:

http://www.cmjornal.pt/portugal/detalhe/jovem-que-matou-namorado-proibida-de-se-deslocar-a-fafe

quarta-feira, 18 de outubro de 2017

Um Amor Platónico

Hoje vou arriscar numa coisa que pouco me lembro de ter feito até agora. De um modo geral, tudo o que escrevo é a reclamar, a dizer mal, a criticar, a queixar-me… Enfim, sou um chorão. Hoje vou tentar escrever sobre uma coisa pela qual sou completamente apaixonado e, como tal, a ideia não é dizer mal. Obviamente que o mais certo é acabar por criticar uma coisa ou outra, mas a ideia geral não é essa. Obvio é, também, que se, de um modo geral, a piada já é escassa no que eu escrevo, desta vez vai ser preciso muito boa vontade para a encontrar e reconhecer.
E que paixão é essa? Os que me conhecem melhor já devem estar a adivinhar, os outros também não vão ficar muito surpreendidos: Artes marciais. “Claro! Se não vem dizer mal, vem falar de dar porrada em pessoas!” Sim, é exatamente isso.

O meu gosto por artes marciais começou muito antes de eu me aperceber disso. Logo desde pequeno que os meus desenhos animados favoritos eram sempre os que tinham mais bofetada: Dragon Ball, ActionMan, Tartarugas Ninja, X-Men, Spider-Man, Pokemon, Batman, etc.. E esse gosto prolongou-se até muito tarde. Já os meus amigos andavam todos a discutir se o Jorge Jesus era bom treinador ou não, ainda eu andava a ver se o Capitão América tinha derrotado o Caveira Vermelha ou não. Ora bem, esse gosto por porrada ganhou forma quando entrei para o Karate, com 15/16 anos. Foi crescendo nesse ambiente até ir estudar para fora e experimentar coisas novas como Muay Thai, Krav Maga e MMA e solidificou-se de tal forma que ainda hoje, a maioria do pessoal da minha idade prefere discutir se o melhor do mundo é o Cristiano Ronaldo ou o Messi e para mim é o Conor McGregor antecedido por uma lenda de seu nome Anderson Silva (se não sabem quem são, vão procurar que só vos faz é bem, tirarem as palas do futebol e perceberem que existe mais qualquer coisinha aí por fora! Eu disse que ia acabar por criticar alguma coisa…).
Tal como já se percebeu, com o passar dos anos, esse gosto passou a paixão, e agora quero experimentar tudo o que consiga que envolva artes marciais. Sim, até mesmo aquelas que prometem defender golpes sem contacto. Para poder tentar dar um pontapé bem assente na cabeça de um instrutor e ver se ele defende ou não sem qualquer contacto.

Como todos sabemos, quem não está por dentro do mundo das artes marciais – seja como praticante, seja como espetador – tem, de um modo geral, uma ideia pouco positiva das mesmas.

“Isso é só violência!”
“A violência não resolve nada”
“Esses desportos de luta são uma estupidez. Às vezes até chegam a morrer de tanta porrada que levam!”
“Então e essas pessoas não são perigosas?”

Estes são alguns dos comentários que já ouvi por esse mundo fora, seja em relação a desportos de combate, seja em relação a artes marciais que não estejam tão ligadas à competição.
Ora bem, nenhuma destas afirmações tem razão de ser. Quem segue de perto desportos de combate e, por exemplo, futebol (visto que é o desporto Rei no nosso país) sabe que, de um modo geral, há muito mais respeito entre competidores no mundo do combate do que no mundo do futebol. Aí vemos que não “é só violência”.
Ninguém pode negar que existiram mortes em competições de combate, mas também ninguém pode negar que existem mortes em competições de tudo e mais alguma coisa. Os desportos de combate têm regras por alguma razão. Não é só porque é giro ter três gajos dentro do ringue: dois à bofetada e um a ver. As regras servem para proteger os competidores de danos desnecessários.
O estereótipo de que praticantes de Boxe, Muay Thai, MMA, Kickboxe, etc., são violentos e perigosos no dia-a-dia também é bastante comum. Mas pensem nessa teoria durante um bocadinho: Se vocês soubessem fazer o que eles sabem, iam andar por aí a distribuir porrada gratuitamente? Se sim, as bestas são vocês, se não, porque é que eles hão de ser diferentes? Só porque põem em prática aquilo que sabem fazer para ganhar dinheiro? Isso era a mesma coisa que o pessoal do tiro ao alvo andar aí pela rua a dar tiros à rapaziada toda que lhes aparecesse pela frente. Certamente que um individuo que tenha a infeliz ideia de tentar armar porrada com um pugilista ou com qualquer outro competidor de desportos de combate de contacto não vai acabar bem tratado, mas isso já é o karma a trabalhar.
“A violência não resolve nada” é uma frase frequentemente dita pelo povo. Na minha opinião resolve e muito. Aliás, nem precisa de ser efetivamente aplicada para resolver: Gente estúpida há por todo o lado e isso é irremediável. Mas se esses mesmos estúpidos souberem que há uma forte possibilidade de levarem uma estampilha bem assente no focinho se se excederem, controlam um pouco a sua estupidez. E um par de murros com força na cara de um assaltante também é capaz de resolver qualquer coisinha.

Como já quase todos ouviram falar em algum momento das suas vidas, as artes marciais têm diversos benefícios (isto falando a um nível recreativo e pessoal e não de alta competição). Como eu gosto muito de enumerar coisas, aqui vai mais uma lista:

Disciplina: A disciplina necessária para se dominar uma arte marcial é, de um modo geral, superior à da grande maioria das modalidades hoje praticadas. Se nos focarmos em artes marciais como o Karate, o Judo, o Krav Maga, o Kenpo, etc. ainda se nota mais essa disciplina. Absorver e aplicar todos os princípios e valores que essas artes marciais envolvem não é para qualquer um. Mas princípios esses sem os quais muito dificilmente se atinge um alto patamar de técnica e qualidade de execução. Respeitar superiores, semelhantes e menos graduados, saber ouvir e tomar atenção (se não o fizerem passam a ser a cobaia do mestre nos exercícios seguintes), ser humilde o suficiente para levar um lambadão no focinho sem guardar ressentimento, saber treinar a sério e com contacto mas também ser capaz de baixar o ritmo consoante a capacidade do parceiro de treino, etc.. Tudo isto acaba por ajudar na construção de seres humanos mais equilibrados. Obviamente que há sempre uma ovelha negra no rebanho, mas não há regra sem exceção.

Autoestima: A prática de artes marciais é muitas vezes apontada por ajudar no melhoramento da autoestima das pessoas (principalmente em adolescentes onde a falta desta é mais acentuada). É certo que o que é que leva a esse aumento de autoconfiança nunca é referido, mas que é frequente acontecer, é. E porque é que o motivo não é revelado? Eu vou falar por experiência própria: Comecei por notar que conseguia fazer coisas que, para mim, não eram nada de especial, mas que deixavam os outros admirados por eu as conseguir fazer. Com isso reparei que estava um pouco acima da média em relação a pessoas “normais” no que tocava a cenas de lutas. E isso começou a subir-me um pouco a autoestima. Resumindo, eu achava que, em caso de necessidade, conseguia ganhar numa luta com grande parte das pessoas que me rodeavam. Umas vezes tinha razão, noutras nem tanto…

Defesa pessoal: Este é, para mim, o fator mais importante das artes marciais. Afinal de conta é a origem de tudo. As artes marciais foram inventadas para que as pessoas se pudessem defender eficazmente. Não foi para competirem, não foi para se exibirem, foi para se defenderem. A possibilidade de conseguir defender-me de forma rápida e eficaz de um ou mais oponentes é das coisas que mais me fascinam e motivam na prática de artes marciais.  A que está no topo dessa mesma lista não é muito diferente. É a possibilidade de conseguir proteger alguém numa situação de necessidade. Um amigo, uma amiga, um familiar, o que for… Ver um destes referidos a ser ameaçado ou atacado e poder ir para lá e protegê-lo eficazmente é o que mais me move na prática de artes marciais. É certo que o mais parecido que tive com isso foi meter-me numa briga para proteger um amigo e acabar no chão a levar mais porrada do que o amigo (em minha defesa, houve muito álcool consumido nessa noite…), mas isso são pormenores.

Experiência: Não consegui denominar esta parte de melhor forma. O que é que eu quero dizer com “experiência”? Saber ver. Um erro muito comum cometido por pessoas que se metem em zaragatas hoje em dia é subestimarem o adversário. Se é pequeno, se é gordo, se é magro, etc.. Estando por dentro do mundo das artes marciais durante uns anos, começamos a reparar que há muitas surpresas. “Pequeninos” com uma potência de golpe absurda, gordos que dão pontapés mais rápidos e altos do que sequer achávamos possível para alguém daquela estatura, magrinhos com mais força do que aparentavam, etc.. Mas o mesmo vale no sentido inverso. Grandes bestas de ginásio com os músculos todos à mostra, mas que basta fazê-los falhar os dois primeiros murros para ficarem sem gás e, como tal, serem presas fáceis. Resumindo, não julgar pelas aparências.

Agora vou ficar por aqui que quando começo a falar de bofetada nunca mais me calo e já me alonguei mais que a conta. Talvez um dia escreva um livro sobre isto, quem sabe…

terça-feira, 10 de outubro de 2017

Olha aqui o meu menino!

E aquelas pessoas que gostam de mostrar fotos de outras pessoas – nomeadamente filhos, namorados, sobrinhos, netos, etc. – que, normalmente, são feias como a merda e nos obrigam a mentir descaradamente porque, se dissermos a nossa opinião sincera, somos bestas? Um bocado incómodo, não é?

Este comportamento ocorre maioritariamente com filhos bebés, como seria de calcular. E isso é bastante irritante! Eu sou crente no que toca a bebés bonitos… Nunca vi nenhum, mas acredito que os haja. Mas são raros! Muito raros! E como tal, é extremamente improvável que o vosso seja a agulha do palheiro. Por isso parem com essa merda! Neste grupo estão também incluídos os netos e os sobrinhos.

O que acontece quando me mostram crianças com poucos meses:

- Olha aqui o meu Leopoldo! É mesmo engraçado!
- *Sorriso forçado com leve exalação de ar pelo nariz*
- Não achas?
- É… *pegar numa característica qualquer proeminente da criança e referi-la. De seguida desviar rapidamente o olhar da foto com esperança que a pessoa pare com aquilo*


O que eu gostaria de ter coragem para fazer:

- Olha aqui o meu Leopoldo! É mesmo engraçado!
- Não estou bem a ver onde é que ter cara de radiador é engraçado, mas se tu o dizes…

E pronto, a conversa não avançava muito mais porque a pessoa ia deixar de me falar após cuspir toda uma enxurrada de insultos.


Outra categoria é a dos jovens adolescentes ou pré adultos “jeitosos”. Aqui quem prevalece são os/as tios/as babados/as. O que é perturbador… Porque, geralmente, estes tios estão a tentar fazer papel de casamenteiros.

Não vou aqui referir o que acontece quando me mostram fotos de uma “sobrinha jeitosa” porque é semelhante à reação que tenho com os bebés… Aliás, o sorriso forçado com o exalar pelo nariz é basicamente a minha reação para tudo o que envolve pessoas indesejadas a falarem para mim…
Passando à frente, situação utópica:

- Olha aqui a minha sobrinha. É muito jeitosa. Tem os rapazes todos atrás dela!
- Ai tem…?
- Tem! Mas aqui entre nós sabes quem é que ela gostava de conhecer?
- *Oh não…* quem?
- A ti!
- Coitada, além de feia tem má pontaria. Com tanto rapaz atrás dela tinha que querer conhecer um que preferia furar os olhos…

E uma vez mais as coisas não avançariam muito mais.
E agora vem a melhor de todas! Fotos de namorados! No meu caso, namoradas.
Estão a ver quando um gajo com cara de retroescavadora capotada vos começa a querer mostrar a namorada e vocês já sabem que vem aí merda porque o gajo nem sequer é rico? E ele começa com aquela conversa típica de homem da taberna?

- A minha princesa é linda. *mostra foto* Então? É uma rapariga saudável, não é?
- Espero que seja… Com uma cara dessas, se não tem saúde, mais vale meter já um garfo na tomada…

E aqui dava-se início a um belo espetáculo de pancadaria gratuita.
Mas há uma outra situação igualmente constrangedora! Que é quando a gaja realmente é bonita ou boa. Porquê? Porque depois vem sempre a piada barata:

- Olha aí a minha miúda. Boa, não é?
- Ya, bem bonita!
- Vá, mas não te estiques que é minha.
- Foda-se, se foi para essa merda para que é que ma mostraste? Foi só para mandares essa boca de macho inseguro no fim? Ou querias que eu dissesse que ela é feia? No que é que ficamos? Queres pavonear-te por teres uma gaja boa ou queres mantê-la guardada só para ti? Decide-te, jovem. As duas coisas não dá!


Voltando à situação da namorada feia, vamos lá tentar fazer-vos perceber uma coisa: Não há mal nenhum em namorar gajas feias. As desgraçadas também têm direito a ser amadas. Agora, “quem feio ama, bonito lhe parece”. E vocês têm de ter dois dedinhos de testa para perceberem que podem estar a namorar com abutres disfarçados de mulheres que só vocês é que acham atraentes. Para poupar os outros de mentirem descaradamente e para se pouparem a vocês de fazerem figuras de ursos, parem de tentar pavonear as vossas namoradas. Se é para mostrar quem é, mostrem a foto, digam “é esta” e não façam perguntas. Deixem a outra pessoa ter o direito de escolher se vos quer dar opinião ou não. (Como devem calcular, falo apenas nas namoradas porque nunca nenhuma gaja chegou ao pé de mim e disse “olha, este é o meu namorado. Todo grosso, não é?” e, como tal, não sei como seria se o fizessem…)

Ajudar não compensa...

Já alguma vez sentiram o diabo que há em vocês a transformar-se numa espécie de bebé chorão? Como assim? Eu explico. Na passada terça-feira dia 3, ia eu de carro a caminho do emprego (sim, eu trabalho…) quando, numa rua direita muito comprida, vejo alguém a esbardalhar-se à beira da estrada. Ainda longe, percebi que esse alguém levava alguma coisa na mão. Ora pois, sendo a besta que sou, a minha ordem de pensamento foi a seguinte: “eheh, deve ser um puto com uma bola na mão, não viu por onde ia e deu com os cornos no chão! É bem-feita que é para aprender a ver por onde anda!” Até aqui tudo normal. O problema começou no tempo que o “puto” estava a demorar a levantar-se. Algo não batia certo. Tal como já disse, a rua era comprida e, mesmo de carro, ainda demorei uns 7 ou 8 segundos a chegar ao locar do ocorrido – tempo mais que suficiente para um “puto” se levantar depois de uma queda. Foi aqui que os meus horrores apareceram. Não era um puto. Era uma velha. E aqui todo o meu sadismo desapareceu e deu lugar a pânico e preocupação. Quando lá cheguei a senhora ainda estava a tentar levantar-se. Parei o carro, abri a janela e – burro – perguntei duas vezes se precisava de ajuda, mas não obtive qualquer resposta. A pobre mulher estava mais preocupada em voltar a uma posição bípede do que a responder a um palhaço qualquer dentro do carro. Dada a falta de resposta, encostei o carro e fui tentar ajudar a senhora com a sua “bola” que afinal era um balde cheio de pão. Voltei a insistir se precisava de ajuda, mas, como qualquer velho que se preze, disse que não. Quando finalmente vi a cara da senhora senti-me num filme do Tarantino. Estava a deitar mais sangue da boca do que o Sweeney Todd deitou da garganta na cena final do filme.
Agarrei no balde de pão e ouvi as “justificações” da desgraçada:
- Ia a atravessar a estrada, vi um carro lá ao fundo (eu) e para não fazer esperar ninguém tropecei ali e caí! Mas eu vou para casa, é já ali.
- Mas precisa que a leve lá?
- Não, não. É já ali.
- Então deixe-me levar o balde.
- Não, deixe estar. Eu moro já ali.
- Mas eu levo o balde, escusa de estar a carregar este peso.
- OPÁ, NÃO! EU LEVO A MERDA DO BALDE!

Obviamente esta última frase é mentira. De facto, a senhora morava logo ali. (Entretanto, a caminho da casa da senhora, uma condutora pergunta-me do carro se eu já tinha chamado a ambulância, coisa que nunca mais me lembrei de fazer. Eu disse que não e pedi-lhe para o fazer. Ela, com uma cara de censura infernal, agarra no telemóvel e não sei se chamou a ambulância ou não que não fiquei lá para ver. Mais tarde voltaremos a este assunto)

- Está ali o meu marido, não precisa de se preocupar.
- Aquele senhor é o seu marido?
- É sim.
- Bom dia – dirigindo-me para o dito senhor – a sua mulher caiu e aleijou-se – meio a tentar que ele tomasse as rédeas do assunto.
- Atão como é que tu te arranjaste?! – dirigindo-se à esposa – Foi você que bateu? – dirigindo-se a mim.
- Não, não. Ninguém bateu. A senhora ia à beira da estrada e caiu.
- Ah mulher, andas sempre a olhar para aqui e para ali e nunca vês por onde andas! Vai-te lá limpar… – aqui eu fiquei sem saber o que fazer à vida. Eu todo contente a pensar que a senhora estava finalmente em boas mãos e o marido só não lhe bateu porque ela já tinha a cara feita num bolo.
De qualquer das formas fui dispensado pelos dois. De volta ao carro lá segui caminho para o trabalho.

Agora vem o processar dos acontecimentos na minha cabeça:
Quando o homem me perguntou se tinha sido eu a bater o meu cérebro nem sequer processou o que a pergunta realmente queria dizer. Ele estava a perguntar-me se tinha sido eu a atropelar a mulher. Depois desta epifania tive outra ainda pior. Ele pensava que eu tinha atropelado a mulher dele e mesmo assim estava a dar-lhe um raspanete à minha frente por se ter deixado atropelar… Eu fico parvo com o amor que algumas pessoas consegue segregar…
Voltando ao assunto da senhora condutora, também ela me deixou, a princípio, admirado com o ar de reprovação que me lançou. Afinal de contas eu tinha parado o carro para ajudar uma senhora que tinha caído, coisa que ela não fez. Limitou-se a ficar dentro do carro e perguntar-me se já tinha chamado a ambulância. Também aqui só depois é que me apercebi: Ela também deve ter ficado com a ideia que eu tinha atropelado a pobre mulher…


Moral da história: nunca ajudem ninguém que se tenha fodido por conta própria. É que depois os outros vão pensar que só estão a ajudar a pessoa porque foram vocês que a foderam.

terça-feira, 3 de outubro de 2017

Carta de Borboleta

Muito boa tarde. O meu nome é Joel e sou uma borboleta. Não, não sou gay nem abichanado. Sou mesmo uma borboleta. Aí há uns tempos era uma lagarta – chamava-me Roberto, na altura – depois fiz um retiro espiritual e agora sou uma borboleta e chamo-me Joel.
Estou a escrever-vos esta carta porque estou muito indignado. Como todos sabem, nós borboletas somos extremamente graciosos a voar. Não é pretensiosismo, somos mesmo. E, novamente, como todos sabem, os gafanhotos não são. São destrambelhados, não veem por onde andam e vão contra tudo e contra todos. E isto é uma maçada! Ontem, ia eu para o emprego (sou contabilista) quando um desses anormais esbarra comigo vindo sabe-se lá de onde. Ainda fiquei com uma asa meio amachucada mas, felizmente, nada de grave. Mas podia ter sido bem pior! E no fim, aquele energúmeno, ainda tem o descaramento de me dizer que eu devia ter mais cuidado por onde voava! Não lhe fui à tromba porque havia gente à volta que me segurou… Caso contrário tinha havido ali sangue! Felizmente apareceu por lá o senhor Emílio – o pardal – que comeu o imbecil do gafanhoto de uma bicada só e acabou tudo em bem.
Como devem calcular, não vos escrevo apenas para contar o ocorrido. Tenho uma sugestão ou outra que quero apresentar e sobre as quais agradecia que ponderassem.
Na minha modesta opinião penso que deveria ser obrigatório os gafanhotos usarem mordaças nas pernas traseiras. Seja como for eles não têm controlo nenhum naquilo e, se é para andarem aos tombos, mais vale levantarem voo devagarinho do que serem disparados rua fora contra sabe-se lá quem ou o quê. Já para não falar daqueles espigões horrendos e perigosíssimos que ostentam nas mesmas. Ainda arrancam um olho a alguém com aquelas coisas. Isto seriam medidas temporárias, obviamente. Quando, eventualmente, se descobrisse maneira de os alterar geneticamente para nascerem sem aqueles propulsores assassinos seria uma medida muito mais eficaz. Isto porque eu sou contra a violência e penso que arrancar-lhes as patas era já um bocadinho exagerado.
Agora que me lembro, tenho outra situação que reforça o meu ponto de vista. Não há muito tempo, o meu cunhado Orlando, o marco, foi vítima da mesma afronta. Claro que para ele não foi tão drástico como comigo – afinal de contas ele é um marco. Vocês sabem… daqueles dos correios – mas ainda assim ficou com um risco na pintura vermelha por causa dum desses inconscientes dos gafanhotos.
Caso, por algum motivo que me escape, não concordarem com a opção por mim acima apresentada, proponho que seja obrigatório para os mesmos tirarem a carta de pesados. Afinal de contas se conseguirem guiar um camião com não sei quantas toneladas, também devem conseguir controlar aqueles pés espantadiços.
Afinal de contas vivemos numa sociedade avançada. Não podemos ter por aí gafanhotos descontrolados aos saltos…

Apresentadas as minhas ideias, despeço-me então. Agradeço que ponderem ponderadamente nas minhas propostas e que não deixem este tema ser levado de ânimo leve. Afinal de contas, é um assunto recorrente, que apoquenta muita gente e que merece atenção imediata e especializada.

Agradeço que mostrem prontidão e profissionalismo.


Os mais cordiais cumprimentos.