Até logo… Pai…

O teu amigo Veríssimo contou-me que andam outra vez a dizer que nos deixaste de vez. As más-línguas não têm descanso. Mas tu, com a tua mania de ser cabeça dura e contrariar sempre toda a gente, vais estar em todos os próximos espectáculos da grande Orquestra Ligeira de Ponte de Sor. E vais calar toda a gente tocando a velha Serenata de Schubert em todo o seu esplendor, e eu vou tentar participar nesse esplendor mas apenas porque tu o permites. Tal como cada um de nós apenas sabe dar um pouco de vida ao seu instrumento musical porque tu o quiseste.
No dia 1 de Junho vamos uma vez mais comemorar o aniversário da orquestra e vais receber uma surpresa como recebes todos os anos e nunca estás à espera. Vais chorar e vais ter gente a gozar e outros a chorar contigo. Vais contar novamente as tuas aventuras na tropa, no Sor ritmo, com raparigas que salvaste simulando ter um pistola no bolso, etc. e embora já as tenhamos ouvido dezenas de vezes voltamos a ouvi-las com a mesma atenção e espectativa que na primeira vez. Pode ser que desta vez bebas um bocadinho demais e comeces a rir enquanto tentas contar as coisas e divirtas ainda mais o pessoal. Vai ser divertido como todos os anos tem sido.
Com isto me quero despedir, mas por pouco tempo. Temos que combinar uma volta de bicicleta pela fonte Esteves ou uma ida à senhora dos prazeres, um dia destes. Agora vê se dás um bom espectáculo por aí. Tens uma grande reputação a manter. Uma reputação de mestre.