sábado, 20 de agosto de 2011

Existência

Estou de barriga para baixo. Sinto-me leve. Talvez a flutuar, sim, é isso. Estou dentro de água. Sinto-me bem. Não! Não estou bem, estou sem ar. Estou a sufocar. Procuro a superfície o mais rápido que consigo. Não a alcanço, por mais que nade não chego lá, não há superfície, apenas água, muita água e uma luz baça. É pavoroso, sinto-me a morrer. Não, volto a sentir-me confortável, o oxigénio chega-me outra vez à cabeça. Consigo respirar, debaixo de água. É um bem-estar estranho. Vejo uma pequena sombra a vaguear à minha volta. Essa sombra transforma-se numa luz. Ela afasta-se e tento segui-la. Ela foge para aquilo que me parece ser para baixo. Continuo a persegui-la e ela continua a fugir. A luz ambiente vai desaparecendo aos poucos. Mais uma sombra aparece a vaguear por perto, mas esta não se torna numa luz. Esta cresce e foge rapidamente. Outras aparecem. Muitas. A pequena luz desapareceu. Uma sensação horrível aparece. Medo. Muito medo. As sombras movimentam-se muito rápido. Está escuro. Não sei quando ficou escuro. Não dei por isso. Começo a sentir o corpo cada vez mais pesado e começa a ser difícil respirar. Não me consigo mexer. Fica calor. Um calor abafado, irritante. Apetece-me gritar. Gritar por ajuda. Tento faze-lo mas é como se me tivessem roubado as cordas vocais. Nenhum som me sai da garganta, nem mesmo ar. Tudo o que me envolve é apenas um nada infinito. Não! Há uma luz. Uma luz que me parece vir de cima. Está a aumentar. Cada vez é mais intensa. Torna-se demasiado forte para os meus olhos. Não vejo nada, estou encandeado. É tudo branco. Não consigo ver o meu próprio corpo. É como se fosse apenas uma consciência no meio de nenhures. A temperatura está agradável, não tenho calor nem frio. Nem tenho a certeza se existe temperatura. Apenas tenho a certeza de uma coisa: existência. É a única coisa que posso afirmar… Será um sonho? Terei morrido? Não me lembro de nada. Não tenho recordações seja do que for.

Não me lembro do meu início e não sei se terei um fim…

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