sábado, 15 de julho de 2017

A incapacidade mental da adolescência

Hoje trago-vos o relato de um dos momentos em que senti mais vergonha na minha vida. Não estou a falar da vergonha que se sente quando se deixa cair um tabuleiro no meio do refeitório, ou de quando dão um peido em público e ele faz barulho. Não. Este é todo um novo nível de vergonha. Ora desfrutem!

Esta história aconteceu por volta dos meus catorze/quinze anos. Era novo e tonto. Mas não era novo e tonto o suficiente para desculpar o que aconteceu.
Seguia eu e dois amigos – um rapaz dois anos mais velho e uma rapariga um ano mais nova – na rua, numa tarde soalheira e agradável. Até aqui, seguíamos como jovens normais e capazes de viver em sociedade como quaisquer outros. Mas, como os leitores poderão constatar, tudo o que relatarei a partir de agora será uma enxurrada de imbecilidades umas a seguir às outras. Bem, quase tudo.
Primeiro impulsionador de toda a trama: aproximamo-nos de uma porta. A porta de uma casa, à beira do passeio, como tantas outras. Alguns leitores provavelmente já esperarão o que aí vem, os outros, provavelmente, acreditam mais no jovem eu do que deviam. Agora vou descrever os acontecimentos sem dizer quem é que fez o quê e depois dou-vos um tempinho para tentarem adivinhar a quem corresponde cada atitude. Cá vai: Um dos três decide tocar à campainha da dita porta e começar a correr, outro decide fugir junto com o primeiro e outro continua a andar naturalmente como uma pessoa normal enquanto tenta chamar os primeiros dois imbecis à razão. Agora pensem tentem adivinhar quem é que fez o quê. Aposto que acertaram. O imbecil de dezasseis/dezassete anos tocou à campainha e fugiu, o burro de catorze/quinze foi atrás porque, afinal de contas ele tinha tocado a uma campainha sem propósito e fugido, e a rapariga de treze/catorze anos deixou-se estar porque aquilo era só parvo e infantil. Para melhorar toda esta situação, sabem o que é que era moda na altura? Usar calças largas e descaídas. Calças essas que para correr davam tanto jeito como uma minissaia justa. Então lá iam dois energúmenos a tentar correr enquanto puxavam as calças para cima para conseguirem correr mais rápido depois de tocarem a uma campainha. Que figuras respeitáveis. Mas, no meio de tudo isto, onde é que está a grande vergonha de que falei inicialmente? Está no que a rapariga de treze/catorze anos nos estava a tentar dizer enquanto nós nos esforçávamos por fugir. Com todo o alvoroço, escusado será dizer que, nenhum de nós ouviu ponta de corno do que ela disse, mas, a meio do caminho, os meus olhos cruzaram-se com a génese dos chamados de atenção da sensata rapariga: a dona da casa estava a ver tudo pela varanda… E foi neste momento que me apeteceu implodir para uma qualquer outra dimensão onde pudesse desfrutar de todo o meu desconforto psicológico, sozinho e sem ser julgado pelos olhares reprovadores dos sóbrios de espírito.

Foi doloroso. O que tinha começado com uma brincadeira parva e infantil depressa se transformou num palco de vergonha e humilhação. O olhar daquela mulher a trasbordar condescendência foi fatal. Eu quase que ouvi aqueles olhos a dizerem “Coitadinhos… devem ter um atraso severo ou foram deixados cair à nascença… É a isto que o nosso futuro está entregue…”. Aquele olhar sozinho conseguiu transmitir os sentimentos da proprietária da casa de uma forma que nem palavras conseguiriam. Teria sido melhor se as calças me tivessem realmente caído. Não tinha doído tanto.

Tentem visualizar a cena completa: 3 jovens caminham no passeio, um toca à campainha e foge, outro junta-se na debandada e a rapariga fica para trás porque a dona da casa está a ver tudo. Foi a última vez que fugi depois de alguém tocar a uma campainha… pelo menos sem antes me certificar que o dono não estava algures a ver o filme todo.


As figuras que um gajo faz quando é puto…

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