Muito boa
tarde. O meu nome é Joel e sou uma borboleta. Não, não sou gay nem abichanado.
Sou mesmo uma borboleta. Aí há uns tempos era uma lagarta – chamava-me Roberto,
na altura – depois fiz um retiro espiritual e agora sou uma borboleta e
chamo-me Joel.
Estou a
escrever-vos esta carta porque estou muito indignado. Como todos sabem, nós borboletas
somos extremamente graciosos a voar. Não é pretensiosismo, somos mesmo. E,
novamente, como todos sabem, os gafanhotos não são. São destrambelhados, não
veem por onde andam e vão contra tudo e contra todos. E isto é uma maçada!
Ontem, ia eu para o emprego (sou contabilista) quando um desses anormais
esbarra comigo vindo sabe-se lá de onde. Ainda fiquei com uma asa meio
amachucada mas, felizmente, nada de grave. Mas podia ter sido bem pior! E no
fim, aquele energúmeno, ainda tem o descaramento de me dizer que eu devia ter
mais cuidado por onde voava! Não lhe fui à tromba porque havia gente à volta
que me segurou… Caso contrário tinha havido ali sangue! Felizmente apareceu por
lá o senhor Emílio – o pardal – que comeu o imbecil do gafanhoto de uma bicada
só e acabou tudo em bem.
Como devem
calcular, não vos escrevo apenas para contar o ocorrido. Tenho uma sugestão ou
outra que quero apresentar e sobre as quais agradecia que ponderassem.
Na minha
modesta opinião penso que deveria ser obrigatório os gafanhotos usarem mordaças
nas pernas traseiras. Seja como for eles não têm controlo nenhum naquilo e, se é
para andarem aos tombos, mais vale levantarem voo devagarinho do que serem
disparados rua fora contra sabe-se lá quem ou o quê. Já para não falar daqueles
espigões horrendos e perigosíssimos que ostentam nas mesmas. Ainda arrancam um
olho a alguém com aquelas coisas. Isto seriam medidas temporárias, obviamente.
Quando, eventualmente, se descobrisse maneira de os alterar geneticamente para
nascerem sem aqueles propulsores assassinos seria uma medida muito mais eficaz.
Isto porque eu sou contra a violência e penso que arrancar-lhes as patas era já
um bocadinho exagerado.
Agora que me
lembro, tenho outra situação que reforça o meu ponto de vista. Não há muito tempo,
o meu cunhado Orlando, o marco, foi vítima da mesma afronta. Claro que para ele
não foi tão drástico como comigo – afinal de contas ele é um marco. Vocês
sabem… daqueles dos correios – mas ainda assim ficou com um risco na pintura
vermelha por causa dum desses inconscientes dos gafanhotos.
Caso, por
algum motivo que me escape, não concordarem com a opção por mim acima
apresentada, proponho que seja obrigatório para os mesmos tirarem a carta de
pesados. Afinal de contas se conseguirem guiar um camião com não sei quantas
toneladas, também devem conseguir controlar aqueles pés espantadiços.
Afinal de
contas vivemos numa sociedade avançada. Não podemos ter por aí gafanhotos
descontrolados aos saltos…
Apresentadas
as minhas ideias, despeço-me então. Agradeço que ponderem ponderadamente nas
minhas propostas e que não deixem este tema ser levado de ânimo leve. Afinal de contas, é um
assunto recorrente, que apoquenta muita gente e que merece atenção imediata e
especializada.
Agradeço que
mostrem prontidão e profissionalismo.
Os mais
cordiais cumprimentos.
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